segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Machismo e pressão estética na praia | Como reagi

Olá, olá! Já escrevi este texto há alguns dias, mas continuava com dúvidas em relação a publicá-lo. Voltei ontem de Porto Covo, o meu querido Porto Covo, mas nem as férias me pouparam de assistir a cenas tristes, e claro que tinha de vir falar no assunto. Houve um dia em que cheguei a casa extremamente triste ou revoltada, não sei bem. Não é que coisas como a que vou descrever me deitem abaixo, é apenas uma revolta por ainda existir gente assim... Antes de mais, vale referir que acredito profundamente que ninguém é obrigado a gostar de ninguém e tenho de me limitar a aceitar que há gente que não gosta de gordos, em especial de mulheres gordas, ou fora do padrão de beleza em geral - é um facto que não posso negar mas que não me afeta pessoalmente -, embora não consiga entender como alguém consegue dividir os outros em categorias, de forma a rebaixar alguém. Mas sejamos gordos ou magros, homens ou mulheres, todos merecemos respeito!
Então, estávamos na praia, super descansados, já depois de almoço, quando aparece um trio de seres do género masculino - porque não os quero tratar mal - a fumar erva e a ouvir músicas com letras duvidosas - mas nada contra, até aqui, pois cada um faz e ouve o que quiser. Os três "meninos" vêm acompanhados por uma moça que parece salvar a situação, mas nem por isso, vejamos à frente.
Desde que se acomodam começam a ser desrespeitosos ao deitar fumo para cima de nós, mas tentamos ignorar. Depois a situação começa a piorar: estavam quatro moças deitadas, a apanhar sol, à nossa frente, e três delas faziam topless, e eles, achando-se no direito de comentar o corpo de uma mulher, lançam frases como "Já vi maior", "Já vi melhor" ou "Nunca vi tantas mamas juntas", até que se levantam e vão dar uma volta junto das toalhas delas.
A moça que estava com eles apenas ria e concordava com o que eles diziam. Entretanto a crítica virou-se para mim e para a minha mãe, e criticavam o facto de sermos gordas e usarmos bikini ("Olha aquela banha" foi uma das coisas que ouvimos), ao que a moça responde, entre risos, que era porque "não tínhamos complexos" - não, não tenho, felizmente, e gostava que estes comentários também não afetassem a minha mãe. Mas não eram apenas críticas, tratava-se de provocação, falavam alto e riam, mesmo ao nosso lado, enquanto olhavam para nós, entre os "Olha, olha" que trocavam. A minha mãe não queria acreditar que aquilo era para nós, até eles falarem nos brincos dela: "Vê as orelhas da gaja. Olha aqueles brincos. Será que lhe conseguimos arrancar aquelas bolas?" - aqui a minha mãe acreditou, realmente, que eles podiam fazer algo, mas não passavam de uns putos mimados e sem educação. Durante a tarde, além de fazerem troça de nós, teciam comentários maldosos em relação às mulheres que iam vendo, gordas ou magras, mais velhas ou mais novas. Em vários momentos, eu não conseguia passar da mesma página do livro que lia, de tão alto que eles falavam e das asneiras que diziam. Mudei a toalha de sítio, para ler em paz, e quando viram que me levantei os risos aumentaram e um deles diz "Olha, levantou-se para nos ver!".
Como disse, eram uns putos, a bem dizer, acabados de sair da adolescência, talvez, tal como eu, mas para mim não passaram de imbecis, sem apreço por ninguém e sem um pingo de decência ou educação, e eu, enquanto mulher, teria vergonha de rir das coisas nojentas que eles diziam, acreditem. A situação apenas me afetou na medida em que fiquei perturbada com o desrespeito deles por todas as mulheres que viam, pelas pessoas que estavam na praia, em geral. E fico seriamente chateada porque eu não estava minimamente interessada com o que pudessem dizer de mim, mas há gente que acredita que não vale nada, que não gosta de si e do que vê no espelho, e depois aparecem inconscientes destes para piorar a situação, sem respeito e sem conhecer sequer a palavra empatia, enquanto se sentam no que acham que é um pedestal inquebrável, que não passa da ignorância e pequenez deles.
E como reagir numa situação destas? Ignorem, simplesmente, por mais frustradas que se possam sentir com o que estão a ouvir. Esqueçam o que aquelas pessoas maldosas disseram, porque críticas destrutivas, insultos e falta de educação ninguém merece. Lembrem-se que não são eles quem tem de gostar e são eles que estão profundamente errados, pois não têm qualquer direito sobre o vosso corpo ou aparência. São vocês quem decide como se querem apresentar. E, felizmente, também são vocês que decidem o que vos afeta ou não. E pessoas sem noção não vos afetarão, com certeza.

2 comentários:

  1. Olá! Confesso que este post é dos únicos que abro e leio com interesse, sem passar a frente, mas houve algo que me chamou a atenção, algo com que discordo plenamente: ser gorda não é estar fora dos padrões porque 1) cada vez há mais pessoas com excesso de peso e 2) todas as mulheres são diferentes, não há nenhum padrão que diga que somos mais ou menos mulheres que as outras. Sinceramente, essa gentinha são mesmo pessoas que não tem nada para fazer da vida, cujo intelecto não dá para mais e, de acordo com o teu testemunho, provavelmente nunca viram mamas ou uma mulher nua na vida. Muitos parabéns pela coragem e por não deixares que isso te afete, és um exemplo para muita gente.

    http://19like.blogspot.pt

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    1. O problema é que existem, sim, padrões de beleza ideais, e há sempre aqueles que, independentemente de se considerarem ou não bonitos, ficam à margem deles, e ser gordo ou ter "excesso" de peso (não sei o que é excesso ou o que não é, mas enfim, isso é outra discussão plausível) mete-nos quase automaticamente fora do padrão de beleza vigente. Embora sejamos todas diferentes, há aquelas que tenderão sempre a encaixar-se numa categoria "superior" em termos de beleza, sem que se atenda a muita subjetividade. Jamais concordarei com esta divisão, ou com o que a sociedade acha mais bonito ou menos bonito, mas ela existe e devemos falar abertamente nela.
      De qualquer das formas, obrigada pelo apoio! Relativamente a ser um exemplo, não sei se sou mas gostaria de o ser, pelo menos no que toca a autoestima e empoderamento feminino! <3

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