quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Inseguranças.

Perdi a vergonha...
Sabem quando éramos crianças e não nos preocupávamos com a imagem? E quando não olhávamos para o espelho e não pensávamos o quão feios podíamos ser? Às vezes, constata-se que é na adolescência que nos começamos a preocupar demasiado com a aparência, que criamos complexos e vemos defeitos em tudo o que somos, se fomos "menos afortunados". No entanto, comigo sempre foi diferente, não consigo lembrar-me de um único momento em que tenha gostado realmente de mim, mesmo na flor da inocência, mesmo com aquela imagem tão querida, que vejo agora nas fotografias antigas. Só me consigo lembrar de todas as vezes em que desejava crescer, acreditando que ia ficar "como elas" - sem saber quem "elas" seriam.
Porque havia aqueles caracóis que eu detestava no meu cabelo (e que agora adoro), havia os pelos já muito pretos nos meus braços, que as outras meninas não tinham, depois comecei a engordar, com cerca de sete ou oito anos, e começou a haver o complexo com aquela barriga tão proeminente, depois aqueles dentes tortos e, finalmente, aproximando-se a puberdade, aquelas borbulhas horríveis, mais pelos por todo o corpo e a menstruação, para a qual ninguém parece estar preparada, por mais informação que tenha, numa fase de completo descontrolo emocional (e físico).
Esperei a adolescência inteira por me sentir bonita e depois por alguém que me achasse bonita, dado não ser eu capaz disso. A questão é que a beleza está, definitivamente, na autoconfiança que transmitimos, então, se não te amas, não serás capaz de receber o amor de ninguém, certo? Nunca tinha percebido isso... E embora já o tenha entendido, não sou capaz de o pôr em prática, como boa conselheira que sou ("Olha para o que eu digo, mas não faças o que eu faço" - pelo amor de Deus!). Comecei a sair, finalmente, da adolescência, embora a acne cá continue. Comecei, felizmente, a perceber que há pessoas que só te querem usar, só te chamam quando precisam de ti, só fingem gostar de ti quando há segundas intenções, só se lembram da tua existência quando lhes é mais conveniente. E depois ainda há aqueles seres (des)humanos que nem sequer sentem que precisam de ti pois, verdadeiramente, só acham alguma piada ao facto de poderem brincar com os sentimentos de qualquer pessoa. Provavelmente, até tu (e eu) já fizeste isso, já usaste alguém, de que forma seja, apenas para o teu proveito ou contentamento. E não te estou a julgar. 
Mas dói. Dói crescer com tantas inseguranças. Dói crescer com tantas pessoas falsas ao nosso redor. Dói saber que confias tudo o que tu és, e mais ainda, a alguém e és deitada ao lixo, como se de farrapo velho te tratasses. Dói tentares gostar de ti e sentires-te constantemente abalada pelo mundo. Mas sabes o que dói mais? Saberes que não te consegues amar se não tiveres quem te ame, quem te procure, quem te deseje. E essa é a derradeira impossibilidade. A brutal fraqueza. A tua grande insegurança. Por isso, abraça aquilo que és, retoma aquilo que entregaste ao outro, gosta de ti antes que ele te apanhe, mais uma vez - porque sabes que vai apanhar.

8 comentários:

  1. Amei o texto. Falou tudo. Me identifico muito com suas palavras e descrições, me sentia a estranha, a deslocada desde a infância até minha adolescência. Até que um dia (mais recentemente aos 19) percebi que só a mim cabia a aceitação da minha pessoa na sociedade. Se nem eu mesma me aceitava, como esperar que a sociedade me aceitasse? A adolescência é um desafio que nos prepara para a vida adulta, se não conseguimos superá-la jamais conseguiremos seguir em frente em paz conosco mesmo.
    Abraçz

    http://motivospelosquaisestoufelizhoje.blogspot.com.br/

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    1. Não podia concordar mais com as tuas palavras! :) Primeiro o amor próprio, depois o resto...
      Obrigada <3

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  2. ADOREI o texto. Infelizmente as pessoas são muito julgadoras e isso afeta demais. Eu ainda estou passando pela adolescência e reparei que se eu não gostar de mim, ninguém mais vai gostar; e esse é o ponto onde conseguimos nossa pequena "liberdade". Fico felicíssima por você também ter passado dessa fase ;)

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    1. Oh, minha querida... Demora a passar, mas passa sempre :) E sentir que crescemos um pouco e que já chegámos ao patamar de nos amar e de não ligar tanto para os outros, percebendo que devemos estar em primeiro lugar no nosso coraçãozinho é das melhores coisas!

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  3. Muito bom! Me identifiquei muit com o seu texto! Durante muito tempo em minha vida quis ser outra pessoa, com outra aparência. E sempre achava que precisava que alguém me achasse bonita pra eu me sentir assim também. Só depois de adulta que fui perceber que é bem ao contrário, precisamos mesmo nos amar primeiro!

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    1. E eu sinto que estou finalmente a chegar a essa conclusão <3

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  4. Oi, Bea!
    Você me descreveu de sua primeira até última palavra. Quando pequena , achava que as crianças eram cruéis. Na adolescência descobri que a maldade é inerente a todas as idades e são poucas que praticam a empatia.
    Beijos!
    Gatita&Cia.

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  5. Olá, tudo bem?
    Amei o seu texto, eu passei por algo parecido na minha infância, mas depois percebi que se eu não me aceitasse, ninguém o faria.
    Tem pessoas com tantos problemas piores que os nossos, que lutam diariamente contra uma doença, entre outras coisas, e seria muito egoismo da minha parte dar importância a coisas que hoje em dia não tem importância alguma para mim.
    Um beijo.

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