Acordo, por vezes, sem vontade nenhuma
de pôr os pés no chão e dou por mim a pensar "Mais um dia… Quem és
tu?". É aborrecido, é triste, é deprimente querer ser alguém e não
conseguir ultrapassar aquela maldita linha que teima em te prender ao que a tua
mente desordenada te obriga a ser, àquilo que estás confinada a ser: uma escrava
dos teus próprios pensamentos obscuros, uma eterna prisioneira no meio da
tempestade por que passa a tua alma, mais uma vida que a nada se resume e em
tudo se baralha por causa da incerteza, da ansiedade, do receio, dos medos, do
tormento, do pânico, do horror.
Surgiu, num dia destes, uma questão no meu pequeno
meio social, acerca de pensamentos. Serão todos eles racionais? Não. Quando
sonhamos, não aplicamos, propriamente, a razão e não precisamos de ser
conhecedores da matéria para o poder concluir. No entanto, e os pensamentos
intrusivos? Questionei e todos olharam para mim com a típica expressão de
surpresa e dúvida "De que estás a falar?!". Tentei explicar o que
eram pensamentos intrusivos e, decididamente, a conclusão a que a maioria
chegou foi que isso era fruto, inconsciente (sim, é verdade), de mentes
distorcidas, de alguém que sofreria de algum transtorno, de alguma perturbação.
Senti-me, claramente, a corar (devem ter reparado). Não, eu jamais iria dizer
que era eu quem tinha, recorrentemente, esses tais pensamentos intrusivos e daí
não conseguir explicar o que eles eram. Era algo demasiado pessoal para poder
esclarecer, extremamente complicado dizer que o sentia a cada momento, a cada
passo, que dou a cada esquina que viro, em cada viagem que faço, em cada minuto
que não consigo adormecer à noite, a cada conversa com os amigos, com a
família, com um estranho. Ninguém olhará para mim e saberá que sofro seja do
que for. E ainda bem… Não que me envergonhe, mas porque ninguém parece
entender.
Ninguém é capaz de entender o outro, ninguém será
capaz de chegar completa e totalmente ao mais profundo do outro, tendo em conta
de que nem o outro, nem ninguém, consegue chegar ao mais profundo de si mesmo.
Vivemos num mundo em que todos andam numa correria infernal, onde todos têm
demasiado trabalho, onde todos não têm tempo para si e para os outros nem
pensar! E depois vivemos num mundo em que todas as pessoas sofrem de elevados
níveis de stress, de ansiedade, todos passam pelo nervosismo constante, pela
pressa, por ataques de pânico, por depressões. E eu não sou diferente. A vida
tem-me alterado, cada passo que dou é mais um aprendizado que deixa a bagagem,
que carrego dia após dia, mais custosa de transportar. Por vezes, a vontade é
larga-la mas não dá. Como podemos largar algo que está infiltrado em nós? É
impossível. E é pesado, muito pesado, o fardo…
O
que está no mais profundo de mim? Aquilo que ninguém conhece? É o facto de que
nem eu mesma me conheço, nem eu mesma tenho noção do que dizer acerca de mim.
Sou o inconfundível confundido, a arrumação desarrumada, a alegre tristeza de
ser mulher e de ter uma anormal normalidade em mim. Sou eu.
Que texto triste! Concordo com as questões que relata sobre a vida no século XXI, não é atoa que a depressão é conhecida como mal do século.
ResponderEliminarQue texto triste! Concordo com as questões que esta no relato.
ResponderEliminarNossa que texto profundo, refleti sobre várias coisas da minha vida...
ResponderEliminarParabéns pelo blog!
Beijos,
www.blogbelacombatom.com
Que texto profundo e marcante, amei, você escreve muito bem, arrasou <3
ResponderEliminarMe identifiquei muito :( sofro de ansiedade e muitas vezes me deparo como no primeiro e no segundo parágrafo :( triste o pior é que não consigo desabafar com ninguém...
ResponderEliminarSeu texto está excelente e com certeza vai ajudar muitas pessoas a aprender a desabafar, jogar tudo para fora. É muito ruim guardar..
ResponderEliminarTexto lindo mas triste e acredito que boa parte das mulheres vão se identificar. É uma triste realidade mas acaba sendo inevitável, nos mulheres somos 100 em 1 e isso é muito complicado de se lidar.
ResponderEliminarOi flor, seu texto me fez refletir sobre mim e o que eu mostro para o mundo, a dificuldade de muitas vezes ser eu mesma e não o que querem que eu seja.
ResponderEliminarAdorei sua forma de se expresar!
Seu texto está lindo mas me transmitiu um sentimento de não se encaixar! Isso é bom porque lembramos que somos seres únicos, mas é meio melancólico porque me transportou para minha adolescência onde sentia muita solidão mesmo rodeada de pessoas que me queriam bem!
ResponderEliminarParabéns porque é um texto emocionante
Bom dia, acho que todos nós um dia nos sentimos assim também, esse fazio, essa incerteza....
ResponderEliminarBoas palavras.
Beijos.
Que texto lindo.. e nos faz refletir sobre muitas coisas.!!! Adorei.
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