quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Conto: 'Somente o tempo...'

Olá, olá,
Hoje trago-vos uma coisa completamente diferente. Em parceria com um amigo meu, brasileiro e autor do blogue homónimo, Franklin Sousa, trago-vos um conto escrito pelo mesmo, apenas adaptado por mim para o português de Portugal. Podem ver a versão original deste breve conto AQUI e aproveitem para dar uma voltinha por lá que ele tem contos fascinantes!
Espero que gostem tanto quanto nós gostámos do resultado final. Ficamos à espera da vossa opinião, claro.

"Este conto é inspirado numa linda jovem que conheci, mas ela não mora aqui, mora num lugar distante do outro lado do oceano. Eu não escutei a sua voz, mas tenho a impressão de que ela tem uma daquelas vozes doces, que nos dão vontade de escutar o dia inteiro, sem parar. Mas eu vi o seu sorriso, eu vi duas fases do seu sorriso, uma de agora e outra de dois anos e seis meses antes de a conhecer, que é por onde a nossa história começa.

Portugal, 20 de junho de 2014

Amanda é uma menina alegre, sorridente, daquelas que se veem em anúncios televisivos, ilumina sempre o ambiente com o seu sorriso e, onde quer que vá, é sempre notada. É uma menina educada, de classe, cheia de vida. Tem muitos sonhos, entre eles o de viajar pelo mundo ou, pelo menos, parte da Europa. Ela pensa, em qualquer dia, sair por aí sem rumo, sem direção, apenas com a mochila às costas e uma vontade imensa de seguir rumo ao desconhecido.
Mas Amanda é jovem e, como qualquer jovem, ela pensa em conhecer um rapaz que irá mudar completamente a sua vida. Alguém que a complete e a faça perder o fôlego, alguém que ela chamaria quando se estivesse a sentir sozinha ou até mesmo que iria abraçá-la quando ela estivesse com medo. Ela sonhou a vida inteira em encontrar alguém assim, mas talvez esse tenha sido o erro de Amanda, acreditar em contos de fadas.
Nas idas e vindas da vida, ela conheceu alguém e, imediatamente, os seus olhos brilharam, o seu coração palpitou e ela sentiu algo dentro de si que dizia "É ele!". Mas, às vezes, o nosso coração cega-nos, não damos atenção aos imensos sinais de Deus ou que o universo envia para tentar impedir-nos de cair em erro, e Amanda não percebeu esses sinais. Pelo contrário, ela envolveu-se, deixou-se levar por aquele rapaz e acreditou cegamente que ele era, de facto, o seu príncipe encantado, o seu prometido, o seu amor para toda a vida. E, infelizmente, as consequências de não perceber os sinais são arrasadoras. 
Amanda era muito feliz quando conheceu aquele rapaz, mas... Quase que do dia para a noite ela mudou. E mudou sem perceber, sem se notar, ela simplesmente mudou. Ao invés de sorrisos radiantes, a sua face mostrava um sorriso singelo e sem graça, bem parecido com aquele que Da Vinci retratou em Mona Lisa. Já devem ter percebido de quem estou a falar, não é?

Brasil, 30 de janeiro de 2017

A sua feição não era mais a mesma. Antes, Amanda era uma menina sonhadora, que acreditava ser capaz de mudar o mundo, mas agora... Ela não conseguia mudar-se nem a si mesma. Via-se presa numa relação de sofrimento, de dor e deceção - deceção não, deceções, uma atrás da outra. Aquela menina que antes tinha vontade de colocar uma mochila às costas e viajar pelo mundo, agora mal saía de casa, mal podia ir ao mercado ou apenas sair para tomar um café. Ela estava presa numa jaula, da qual havia posto a chave fora, e a sua única esperança era, de facto, encontrar alguém que a tirasse de lá, e ela conheceu...
Um certo dia, um bom rapaz aproximou-se, ele viu Amanda naquele estado e percebeu que ela era muito mais do que aparentava ser. Ele viu o anjo por detrás da menina ferida, ele viu o que nem mesmo ela era capaz de perceber. Instintivamente, ele juntou todas as suas forças para arrombar a porta daquela jaula e libertar Amanda lá de dentro. Mas sabem o que ela fez como gesto de agradecimento? Ela mandou-o embora e decidiu, de livre e espontânea vontade, retomar à jaula, porque para ela o mundo aqui fora havia deixado de ser alegre e transformara-se num lugar de trevas e ilusão, onde ela estava sempre a moldar a sua própria verdade.
Aquele rapaz de coração partido saiu, sem olhar para trás. Sem entender como alguém aceitaria viver naquela condição, e o pior: por que Amanda não se queria libertar? Por que ela não queria assumir o controlo da sua vida? Foram tantas indagações no caminho de volta, até que ele parou de se questionar, pois percebeu que só quem podia dar as respostas escolhera trancafiar-se numa jaula, sem vontade de sair de lá. Então, ele simplesmente esqueceu aquele dia e viveu.
Enquanto isso, a nossa protagonista estava a experienciar, novamente, o doce veneno do seu capataz, o homem que ela julgou ser um príncipe mas que lhe retirou a sua alegria de viver. Aquele que não a trancou numa jaula física, mas sim numa mental. Ele aprisionou-a de tal forma que ela não se sente inteira longe dele, ela não se sente capaz, tem medo de tudo e acredita estar cheia de limitações. Mal sabe ela que só quem pode verdadeiramente romper os lacres daquela prisão é ela mesma, e que, no dia em que o fizer, ela voltará a sorrir novamente, não esse sorriso sem graça e singelo, mas sim aquele sorriso radiante da verdadeira Amanda. Se ela fará isso um dia ou não, somente o tempo dirá..."



10 comentários:

  1. Ah, havia lido a versão original, e realmente, excelente o conto!

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  2. Ah, o amor. A dor. A decepção. Causando medos nas pessoas desde que existe.
    Uma mente aprisionada não consegue ver, sentir, ouvir... Não consegue perceber que suas limitações são autoimpostas, é uma pena. Trancar-se para impedir que a dor chegue também impede que a felicidade venha... É uma pena que tanta gente passe por isso sem conseguir se livrar dessas grades imaginárias.

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  3. Esse conto é mesmo muito bom, Bia. O Franklin é um diamante literário a não ser desprezado. Parabéns p/ ele pelo conto e p/ você por valorizar o que é bom e compartilhar com todos.

    Abraço a ambos.

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  4. Oie

    Que escrita maravilhosa! Parabenizo o Franklin.
    Um texto muito profundo e infelizmente muitas pessoas passam por isso e somente eles podem dar um basta dessa dor.
    Gostei demais!

    bjs
    Fernanda

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  5. gostei muito do conto e da escrita do autor. parabens

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  6. O que eu posso dizer desse conto? Realmente amei escrevê-lo, e é claro a inspiração para tal contou bastante. Obrigado por divulgar meu trabalho e agradeço a todos pelos comentários também.

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  7. Que conto profundo, adorei! Parabéns ao autor..
    Já estou seguindo o seu blog, poderia retribuir seguindo o meu?
    Beijos
    Palavras ao vento

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  8. Oi Bea, tudo bem?

    Já li alguns conto do Frank, ele escreve muito bem né? :)

    Gostei bastante do conto, principalmente por ele retratar tão bem a realidade de muitas pessoas que estão em um relacionamento abusivo - mesmo que muitas vezes ele não chegue a ser abusivo fisicamente, há um abuso psicológico que faz a vítima acreditar que está segura enquanto está presa na jaula que o Frank descreveu.

    Quem está de fora como nós, tem dificuldade em entender como a vítima permite isso... é complicado.

    Beijos! ;*

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  9. Olá, o conto está ótimo! Ainda li no blog do seu amigo (Franklin Sousa). Gosto de apreciar a criatividade das pessoas e seu conto expressa justamente isto ^^

    Parabéns!

    Att

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  10. Nem dá pra acreditar que já vai fazer um ano que escrevi esse conto, que bom que você ainda o tem.

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